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Os enamoramentos

Os enamoramentos, de Javier Marías


Data de aquisição e modalidade: 30/04/2013 (provável), presente.
Data de início: 07/01/2014
Data de término: 10/01/2014
Nota: 4/5

Recomecei a ler, desta vez sem ter passado pelo ritual da orelha, e, na verdade, prestando atenção a alguns assuntos e a outros deixando passar batido. Assim, guiada pelo tema do título e pelo que já havia lido da primeira vez, tive o palpite de que o enredo trataria do “enamoramento” de María Dolz, a narradora e protagonista, pelo casal Luisa e Miguel Deverne (“ou Desvern”, como a própria María explica) e que, a partir da morte e do consequente acesso de María à viúva, esse encantamento se quebraria, ao entrar em contato direto com a integrante remanescente do “Casal Perfeito”, que destruiria a visão idealizada de María por meio de seus relatos.

Bom, esse palpite não foi concretizado. Além de María nunca ter conhecido e falado em vida com Desvern, ela tem apenas dois encontros com Luisa, na verdade apenas um, tecnicamente falando, e também para não contar o final. Do primeiro e mais significativo, ela sai não sabendo “daquele homem mais do que antes de entrar” (página 79). Assim, como não se fala nada da relação entre Luisa e Miguel, esta se conversa intacta, sem mácula, e, em todo caso, eles continuam constituindo o “Casal Perfeito”, e foi isso que eu achei estranho. É claro isso se dá em virtude da pequena parte que Luisa, a que poderia destroçar esse ideal, participa ativamente da história. A minha estranheza se deu pela história sustentar que tal tipo de relação é possível de existir. É claro que por não saber mais sobre o casal, mantenho a visão deles como “perfeito”, mas com ressalvas que poderiam muito bem terem se concretizado caso Luisa tivesse participado mais da trama. E talvez isso se constitua na vida real, afinal. Vemos as pessoas e os casais apenas de longe, e geralmente não temos acesso àqueles que achamos perfeitos, tal como María acabou em parte fazendo e que era seu objetivo inicial também “e me permitiam fantasiar sobre sua vida que imaginava sem mácula, tanto que me alegrava não poder comprovar nem averiguar nada a esse respeito e assim não sair do meu encantamento passageiro” (página 18). Meu palpite não era o centro da trama, afinal.

Na verdade o centro da trama é a morte (o tal assunto que era mencionado na orelha, mas que eu esqueci). Todos os personagens centrais falam sobre isso: María, Luisa, Javier e até o Desvern imaginário desfiam reflexões acerca do momento final. O enamoramento fica em segundo plano.

Ok, o livro quebrou a minha expectativa inicial de enredo. Além disso, o que mais há? Bem, ele é centrado nas “fabulações” de María, que é quem narra, e para os amantes de ação isso pode ser um pouco desgastante. Assim, no meio de diálogos, estes são cortados pelos pensamentos e fabulações da narradora, que podem levar várias páginas até que ela volte ao mundo real e o diálogo retorne. Às vezes parece inverossímil que tal coisa ocorra, devido à extensão das observações em tão pouco espaço de tempo. Eu, pelo menos, não seria capaz de tal proeza, rs. Por outro lado, gosto bastante dessa técnica, gosto de saber o que os personagens pensariam sobre cada ação ocorrida, torna, ao mesmo tempo, a situação verossímil aos meus olhos. 

Mas não é apenas no plano dos diálogos que essas escapadas do mundo real acontecem. Lembro-me de uma parte ocupada por um trecho significativo de páginas, todo composto de um diálogo imaginário entre Miguel e seu amigo Javier. É um trecho bem longo mesmo se você for pensar que é para algo que nem aconteceu ainda por cima! Os períodos também costumam ser longos, o que fez eu perder o fio da meada em vários trechos.

Lá pelo meio do enredo, aparece um pequeno mistério, o que dá um pouco de gás para saber qual é a verdade, ainda que ela nunca seja confirmada. Então, caso queiram ler esse livro, estejam preparados para muitas reflexões, meditações, imaginações, digressões e pouca ação. 


Veredito

Foi um livro pelo qual eu me enamorei só de pesquisá-lo pela internet, mas faltou um pouco mais para o enamoramento ser recíproco depois de terminada a leitura. Gostei das fabulações de María, mas a achei um pouco sem sal demais, sem bom humor e um pingo de divertimento, centrada demais em si mesma.


Duas pequenas curiosidades: 

Primeira: Havia começado também a ler “Coração tão branco”, no qual a recém contraída esposa do narrador protagonista também se chama Luisa, e assim fiquei um pouco encucada com o fato, pensando coisas como “Luisa deve ser um nome popular hoje em dia, ou deve haver algum significado por detrás do nome que o faça estar presente em duas personagens de livros diferentes que estou por ler”. Só depois fui ligar os pontos e perceber que os dois livros são do mesmo autor, e que ele deve mesmo gostar desse nome.

Segunda: Percebi, ao terminar o livro e admirar a capa, que o autor, Javier Marías, emprestou seu nome a duas de suas personagens. O primeiro nome, Javier, a Javier Días-Varela e o segundo, Marías, porém no singular, a María Dolz.

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